Como reflexo da queda da inflação e sob a promessa de recuperação após a derrubada da atividade com as medidas de ajustes tomadas pelo governo de Javier Milei, empresas brasileiras voltaram a olhar para o país e estão aumentando o número de funcionários e de lojas, ainda que de forma cautelosa.
Javier Milei derrotou o peronismo e começou a governar a Argentina em dezembro de 2023, impondo um duro corte de gastos que derrubou a inflação (em maio, foi de 1,5% mensal), mas também esfriou a atividade econômica. A promessa do governo é de volta dos investimentos e recuperação, terminado o primeiro ano de mandato.
No ano passado, o primeiro ano em que ele governou por completo, o fluxo de investimentos diretos do Brasil na Argentina foi de US$ 131,4 milhões (alta de 66,8% em relação a 2023), de acordo com dados da Camex (Câmara de Comércio Exterior) a partir de números do Banco Central.
De janeiro a março de 2025, esse montante foi de US$ 10,6 milhões, menos de um quarto dos aportes vistos em 2024. Os números não incluem regressos de dinheiro, operações intercompanhia (entre matriz e filiais de uma empresa) e reinvestimentos de lucros.
“Temos as maiores empresas de turismo do Brasil e da Argentina. Então, se a gente não está vendendo para que os brasileiros viajem para a Argentina, a gente está vendendo na Argentina para que eles venham ao Brasil. De algum jeito, ganhamos”, diz à Folha o CEO da CVC, Fábio Godinho.
“Quando falamos de Argentina, o mercado em 2024 foi recessivo para o consumo em geral, pelos ajustes que estão sendo feitos. A gente dobrou a venda no primeiro trimestre deste ano, tanto de argentinos vindo para o Brasil quanto viajando para outros países, ante o primeiro trimestre de 2024.”
A brasileira comprou a Almundo, marca que atua no mercado argentino, em 2019. Em 2024, a companhia anunciou a fusão da Avantrip com a Almundo.
“No fim de 2024, a companhia tinha 120 lojas no país, mais do que antes da pandemia. A gente falou: ‘esse cara está fazendo a coisa certa.’ Investimos por volta de R$ 30 milhões na Argentina, três vezes mais do que geralmente investimos, e agora estamos captando na veia essa subida das vendas.”
“Pelo menos olhando do Brasil, a expectativa dos empresários daqui é muito grande em relação às reformas que foram feitas, toda essa discussão da inflação, que era um grande problema e que foi deixando de ser tão assustadora”, avalia o CEO da Kepler Weber, Bernardo Nogueira.
A empresa, que tem fábricas no Rio Grande do Sul (a três horas da fronteira com a Argentina) e no Mato Grosso do Sul, atua no agronegócio, na etapa pós-colheita da cadeia produtiva de grãos. Segundo Nogueira, havia uma demanda reprimida por parte do agricultor argentino, que agora, com o peso mais forte, tem poder de compra para investir em maquinário e melhorias das propriedades.
“A Argentina, apesar de ser um dos maiores países agrícolas do mundo, e ter uma agricultura bastante profissional e competitiva, há tempos não investia. No nosso negócio, apesar de termos centenas de unidades lá, a gente não tinha nem demanda para trocas de peças. O país ficou fechado durante alguns anos.”
Segundo ele, após as vendas começarem a despertar em 2023 e 2024, neste ano a Argentina briga para ser o maior importador da empresa, roubando o lugar do Paraguai. “O momento é de observar o que vai acontecer. O histórico deles é que, talvez, isso volte para o zero, como ocorreu em momentos passados.”
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